Ep. 9: Outros grupos. Não estamos sozinhos.

Olhamos para todos os lados, a rua estava tomada por zumbis. Não encontramos Alexandre em nenhuma parte. Ao longe, avistamos um cara que corria por cima dos carros e vinha em nossa direção.
Os outros amigos saíram dos carros e nós nos juntamos no centro do nosso pequeno cerco, formado pelos carros. Alguns poucos zumbis já rastejavam sobre os carros tentando nos alcançar, mas ficamos ali parados, armas em punho, eliminando um a um, até que conseguíssemos identificar quem vinha correndo.
Corri até o carro e peguei o velho revolver que era de Almir.
_JÁ ESTÁ BOM! NÃO SE APROXIME MAIS! Gritei engatilhando a arma e apontando-a para o estranho.
Ele também puxou uma arma para nós e começou a atirar, até que se abaixou e o perdemos de vista. Ouvíamos apenas a sua voz.
_Uou, uou. Então vocês são viajantes? Já tinha visto vocês vindo lá longe. Aposto que têm muita coisa boa nesses carros, além, é claro, dessas duas mocinhas.
Ouvimos mais sons de tiros, agora acertando nossos carros. Um caminhão militar subia a rua de ré. Na caçamba, dois homens disparavam em nossa direção. Atirei de volta e nos abaixamos para não sermos atingidos, mas estávamos em desvantagem. Assim que o caminhão parou perto de nós, um zumbi de roupas camufladas surgiu, vindo de trás dos atiradores e mordeu um deles na lateral do pescoço, arrancando um pedaço. Na mesma hora o sangue jorrou longe, o que fez com que ele caísse perdendo muito sangue. Com o impacto no chão, o fuzil disparou atingindo o outro atirador, na cabeça. Procuramos novamente pelo homem que subiu a rua correndo e ele ainda estava escondido.
Os zumbis ao nosso redor grunhiam e batiam os dentes, como quem via um delicioso banquete. A confusão e o barulho atraíram mais deles, que tentavam nos morder.
Valquírio e Diogo se adiantaram e pularam na carroceria do caminhão para conferir se tinha algo que poderia ser útil.  Valquírio matou o zumbi e pegou o fuzil das mãos de um dos cadáveres.
Diogo sumiu por um instante, mas voltou para falar com a gente.
_ CARA, TEM UMA PASSAGEM DA CARROCERIA PARA  A CABINE! E AQUI ESTÁ CHEIO DE ARMAS, FUZIS, PISTOLAS, MUITA MUNIÇÃO! VAMOS LEVAR TUDO! VOU DIRIGINDO O CAMINHÃO E VOCÊS VÃO ATRÁS, BELEZA?
Assim que tentamos voltar para os nossos carros, o primeiro cara reapareceu com a arma na cabeça de Natasha, ameaçando atirar.
_ Você aí, garotão, joga a arma no chão e chuta pra cá. Todos vocês! Nada de tesouras, facas... nada disso, vamos logo. Isso é o mundo cão, meus queridos!
Eu, Aline, e Natasha estávamos rendidos e sem alternativas, jogamos as armas no chão.
_ Onde estão os outros? Sei que tinha mais gente com vocês. Cadê eles?
Apenas silêncio, essa foi a sua resposta. Ninguém se manifestou. Os amigos no caminhão apareceram cada um apontando um fuzil em sua direção. Natasha percebeu um dos zumbis vindo por cima do capô de seu carro, por trás dela e do cara. E fingiu uma fraqueza nas pernas, dando um passo para trás, enquanto falava alto para abafar o som que o zumbi emitia. Agora, mais um zumbi se rastejava pelo mesmo caminho e Natasha deu mais um passo para trás. Foi o suficiente para que o homem que lha ameaçava fosse alcançado, levando uma mordida no braço que segurava a arma. Assim que seu braço foi puxado, Natasha correu para nós. Diogo e Valquírio abriram fogo contra o cara que chacoalhou lindamente no ar, espalhando sangue sobre o carro. O som dos fuzis atraiu ainda mais zumbis que mergulhavam sobre o cadáver, enquanto a poça de sangue só aumentava. Os disparos também assustaram o bebê, que estava dentro do carro e começou a chorar novamente.
Precisávamos sair dali o mais rápido possível, os carros já não eram mais barreira suficiente. Precisávamos de um lugar mais seguro. Alexandre ainda estava desaparecido, mas uma busca sem pistas seria inútil, e colocaria outros membros do grupo em risco.
Demos uma última olhada ao redor e nada. Deixamos um carro com água, comida e armas, para o caso de ele voltar. Ligamos os motores dos outros veículos e seguimos caminho.
Diogo ia na frente com o caminhão, abrindo passagem, em seguida Natasha, Valquírio e Tekilla e, por último, eu,  Aline e o bebê.
Descemos a rua e seguimos rumo à Vista Alegre, sempre com os olhos no retrovisor.
Até que Diogo acelerou e virou numa rua cantando pneu e nós fizemos o mesmo. Já estacionado, ele saiu do caminhão e correu na direção de nossos carros.
_Abaixem-se, eles não podem nos ver!

Enquanto ele falava, três motos subiram a rua, todas com duas pessoas. Não vimos armas, mas ainda assim era preciso ter cautela.

Ep. 8: Zumbis, Vodka e Tekilla

A cena da mulher morrendo bem na nossa frente, todo aquele sangue, me fez lembrar de Almir, apesar de os motivos de suas mortes serem completamente diferentes.
_ Alexandre, Alexandre! Chamamos sem resposta. Parecia realmente em choque, com os olhos caídos e fixos em um ponto. Mantivemos distância e observamos.
Ele pôs o corpo da mulher sentado com as pernas esticadas e as coisas apoiadas na parede, sentou-se ao lado e começou a falar com o cadáver. Diogo fez menção em se aproximar, mas foi impedido por Natasha.
Olhei para trás e vi Aline na sacada onde estávamos antes, ainda com o bebê no colo, ele sorria. Pobre criança.
Me despedi de Natasha e Diogo, que disseram que ficariam por ali mesmo.
Voltando para dentro, Aline também estava bem abalada. Tentei não falar sobre o que acabara de acontecer.
_ Daqui a algumas horas estará de manhã, porque não aproveitamos para descansar um pouco?
_ Sim, precisamos estar inteiros amanhã para sairmos daqui. Respondeu Aline.
Encontramos um canto e dormimos no chão. O cansaço fez com que apagássemos em poucos minutos.
Passaram-se algumas horas e então despertei com um susto. Aline já estava de pé e tinha ótimas notícias.
_ Bom dia, amor! Já ia mesmo te acordar! O Diogo falou que acha que tem uma maneira de sairmos daqui. Ele está lá fora, no telhado.
Levantei correndo e fui procurá-lo.
_ Bom dia, Diogo! Descansou?
_ Bom dia, dorminhoco! Tava roncando pra caralho, hein, maluco! Se liga, enquanto vocês dormiam eu trabelhei nisso aqui. E apontou para um cabo de aço que cruzava todo o pátio.
_ Ta vendo isso aí? É um cabo de aço que segurava os fios de alta tensão, mas foram arrancados pelo caminhão que bateu e derrubou dois postes. Ele está preso aqui em cima e vai direto até lá, ó, até o primeiro caminhão onde a mulher estava. De lá é só descer e pegarmos os carros. O que me diz?
_ Gênio! Tu é foda, cara.
_ Só tem um problema... o Alexandre encontrou um armário cheio de caixas de vodka e o resultado é aquele alí. Disse ele coçando a cabeça e apontando para Alexandre, que estava dormindo ao lado do cadáver da mulher, no mesmo lugar de ontem.
Nós o acordamos e por sorte ele estava bem, apenas com uma puta ressaca. Mas conseguiu atravessar a “tirolesa” improvisada. Primeiro foi o Diogo, seguido por Alexandre, depois Natasha. Aline pediu minha camisa e amarrou uma manga na outra fazendo uma espécie de sacola, onde levou o bebê preso ao corpo, por último fui eu. Cada um, assim que chegava, corria para o seu carro, para não perdermos mais tempo. Realmente foi uma jogada de mestre, conseguimos sair sem precisar enfrentar nem um zumbi sequer.
Seguindo a estrada, avistamos pelo retrovisor uma moto, não muito potente mas que vinha a toda velocidade. Abrimos passagem para o cara de dreads no cabelo e ele passou por nós sem olhar para os lados.
A placa de Minas Gerais indicava que aquele viajante apressado vinha de longe. Em Irajá, em frente ao Shopping, avistamos novamente o cara dos dreads, dessa vez já sem a moto e cercado por uma grande horda. Ele tinha consigo dois facões bem grandes, daqueles de cortar galhos e mostrava bastante desenvoltura com as armas. Mas o número de zumbis o deixava em uma desvantagem absurda.
_ AMOR, É O VALQUÍRIO!!! Aline gritou e acelerou, investindo sobre a horda.
Nós, nos outros carros, fomos atrás. Nosso grupo estava em três carros e com isso conseguimos pará-los estrategicamente de forma que, praticamente, cercássemos o amigo que estava em perigo. Portas abertas, saí no pequeno cerco que montamos, para uma reorganização rápida do grupo. Agora estávamos em seis pessoas.
_Val, tu pode pegar o carro com a Natasha, pra Aline vir no carro comigo?
_ Claro, pô. Mas eu não posso me separar da Tekilla. Ela pode ir comigo?
Valquírio falou enquanto tirava da mochila uma gatinha cinza e preta, uma mistura de Siamês com vira-lata, que Natasha na mesma hora pegou no colo.
_ Acho que isso é um sim. Respondi irônico.
_ Claro que pode, ainda mais com uma filhote linda dessas. Você é o cara da moto?
_ Sim, sou eu. Ela está caída ali, não consigo pegá-la.
Natasha saiu do carro para Valquírio entrar, já que a porta do outro lado estava bloqueada pelos zumbis.
_ Entra aí! Deixa que eu piloto agora, você veio de longe. Aproveita pra descansar um pouco.
_ Pô... Valeu, Natasha. E esse bebê no colo da Aline, de quem é? Perguntou meio confuso.

_ Isso é uma longa história, cara. Prazer, sou o Diogo. Esse aqui ao lado é o … PORRA, O ALEXANDRE SUMIU!!!

Ep. 7: Amigos, um segundo muda tudo.

Assim que fechamos e travamos a porta, subimos a escada estreita e de degraus irregulares. Lá em cima, Alexandre e Diogo tinham todo um aparato já organizado. Natasha abraçou Alexandre, bastante emocionada.
_ Que bom ver amigos vivos! Pelo visto não chegaram aqui agora, né? Estão aqui há muito tempo?
_ Mais ou menos chegamos por aqui à tarde. Alexandre respondeu e, enquanto ele falava, percebi seu punho enfaixado, mas não comentei de imediato.
Enquanto Natasha e Alexandre conversavam um pouco mais afastados, Diogo começou a nos explicar que o hospital onde ele trabalha começou a receber muitos pacientes vítimas de ataques de mordidas, mas não de animais e sim de outras pessoas. Os que já não chegavam mortos, morriam em pouco tempo. E esses, mesmo após terem morrido, levantavam-se e atacavam outras pessoas. Ele então resolveu voltar para casa.
_ Porra, cara! Só eu tinha ido trabalhar ontem, tive que ir cobrir um amigo que adoeceu. Minha família estava toda lá em casa, começando a preparar as coisas para a festa surpresa de um primo hoje à noite. Só quero chegar em casa e ver que estão todos bem.
_ E o Alexandre? Como encontrou? Perguntei, já prevendo a hora de perguntar sobre o ferimento no braço.
_ Assim que eu peguei a saída da Ilha do Governador e voltava dirigindo pela Av. Brasil, fui ultrapassado por um ônibus em alta velocidade, que bateu na mureta da pista e capotou a poucos metros do meu carro. Parei ali próximo e corri para ajudar, quando ouvi chamarem meu nome. Era o Alexandre, dentro do ônibus! Havia pelo menos uns cinco mordedores desses! Quebrei a janela e puxei nosso amigo, que disse que estava sozinho e também indo pra casa, fugindo do caos. Não pensamos duas vezes, voltamos para o carro e chegamos aqui. Paramos para abastecer e procurar algo para imobilizar o braço dele. Acho que está quebrado, ele reclama de dor, mas não há ferimento aparente. Aqui fomos cercados e resolvemos ficar até vermos o que faremos para seguir caminho.
Começamos a explicar nossa estratégia para chegar à Vila da Penha, mas fomos interrompidos logo no início.
_SOCORRO, SOCORROOOOO!
Corremos todos até a varanda e lá estava a mulher para quem demos carona. Ela estava em cima de um dos caminhões parados e, apesar de próximo, era impossível alcançá-la. Ela viu o bebê no colo de Aline e agradeceu por termos salvo seu filho e de certa forma se acalmou um pouco.
_Não saia daí que nós vamos te ajudar, nós vamos te resgatar. Gritou Alexandre, já se arrumando para descer.
_ Espera aí, cara! Olha como está aquilo lá embaixo.
_ É Alexandre, ficou louco?
_ Mas, gente, não podemos deixá-la abandonada à própria sorte.
_ E quem foi que disse isso? Ninguém tá abandonando ela...
O falatório irritou o bebê que voltou a chorar, chorou tanto que perdeu o fôlego, ficando vermelho arroxeado e sem conseguir puxar o ar novamente. Dali da varanda assistíamos a cena de terror que se anunciava. A mulher se desesperou com a criança, que passava mal e resolveu arriscar passar para o caminhão ao lado e ir pulando de um em um até chegar mais perto. Aline correu com o bebê para o lado de dentro, afastando-o do barulho, para que se acalmasse e assim recuperasse o fôlego.
_ Eu vou até aí! Preciso do meu filho, ele precisa de mim, somos uma família, uma família abençoada!
Ela fechou os olhos, ergueu a mão esquerda aos céus, levando a direita ao peito, recitando algo que a distância não nos permitia interpretar, como quem estivesse em oração. Ficou assim por um tempo e assim que abriu os olhos pulou para o primeiro caminhão ao seu lado, que era mais baixo, o seu tênis enganchou em algo e ela caiu rasgando a panturrilha, que de imediato se abriu deixando parte de sua carne pendurada. Com muita dificuldade ela atravessou sobre outros três veículos, deixando um rastro de sangue. O quarto um caminhão cegonha, havia batido e entrado em um pequeno prédio comercial, ela precisaria escalá-lo e se arrastar por entre as ferragens retorcidas para só então atravessar uma marquise e nós a alcançarmos.
Perdemos a mulher de vista por alguns minutos que pareceram uma eternidade, até que a avistamos saindo do outro lado, agora mais próxima de nós, ainda mais machucada.
Ela agora estava sem blusa, talvez tenha ficado presa em alguma coisa, seu cabelo estava colado ao rosto, lavado em sangue, ela parecia ter deslocado um ombro, pois já não mais movimentava um dos braços.
_ Meu filho, mamãe está chegando. Fique calmo, mamãe está chegando.
Ela sussurrava como quem guardava suas últimas forças para aquele reencontro.
Faltava muito pouco, agora ela precisava apenas caminhar por uma pequena marquise, sobre algumas lojas e então entregaríamos seu bebê.
As forças da mulher se extinguiam a cada passo. Alexandre passou para o lado de fora e se segurou firme na grade, transpondo um pequeno vão entre os dois prédios.
A mulher já não se aguentava mais de pé, apoiava todo o seu peso em apenas uma das pernas, já que a que a outra se esvaía em sangue, dilacerada. A clavícula, notoriamente deslocada, tornava seu caminhar ainda mais cambaleante e dolorido, o que a fazia gemer de dor.
Ela vinha praticamente se arrastando deixando um rastro rubro de dor e sofrimento, mas parecia não se importar, ela pensava apenas em seu pequeno.
Alexandre a alcançou e a abraçou.
_Vem comigo. Parabéns, você é uma vencedora. Uma leoa que não mediu esforços para proteger a sua cria. Vamos, vamos pegá-lo.
Ela então sorriu, agradeceu e desmaiou, caindo por cima de Alexandre, que foi pego de surpresa e não aguentou o peso da mulher. Na mesma hora ele se virou para trás pedindo ajuda.
Enquanto corríamos todos para ajudar, ouvimos um tiro, enquanto uma voz ao longe gritava:
_ MORRE, SUA FILHA DA PUTAAAAAA. QUERO VER TU MORDER O CARA AGORA. ME DEVE ESSA, MALUCO!!! HAHAHAHAHAHAHA.
Isso seguido do som de um carro cantando pneu e se afastando.

_ NÃÃÃÃÃÃÃÃÃO! Gritou Alexandre. E ao voltarmos os olhos novamente para os dois no chão, ele estava com o corpo todo ensanguentado. A mulher estava morta. A forma como ela andava, devido aos ferimentos, confundiu o atirador, que de longe achou que ela fosse ser um zumbi atacando Alexandre. O disparo foi certeiro na cabeça, que explodiu, restando apenas pedaços de crânio e massa encefálica para todos os lados.